domingo, 3 de março de 2013

Rotina

Os meus gestos de hoje, a copiar os de ontem.

Todos os dias, a mesma melodia mecânica a guiar os meus passos. Ainda não os vivi, mas já sei os meus momentos de cor.
Fechos os olhos, e tento procurar vida em mim. Vivendo num plágio de mim própria, esqueço-me de sentir.
 A rotina entorpeceu-me a alma.
 Por vezes, olho para o esboço da minha vida e nada reconheço.Como se esses fossem os desejos de um outro corpo - desconhecido, distante.

Sonhos quebrados.

Por vezes, tento mudar o ritmo dos dias, devagarinho, com medo que o mundo acorde. Com essa pequena descoordenação, reaparece-me o gosto a liberdade. Sinto-o a crescer, no peito. E aí, o meu olhar já (não) é meu. O que outrora me parecia desconhecido e distante, parece-me agora tão familiar!
Guardo segredo dos meus passos fora do tempo, porque tenho medo. Medo que não me deixem compor o meu próprio ritmo. Medo de ser julgada por sonhar.  - Afinal, o mundo é para os sérios! -

Delicio-me, tal delinquente, com a minha utopia. Porque, se eu não a falar, se eu fingir que não a penso, nuunca ninguém me poderá tirá-la.

Liberdade.

E assim caminho. Ora adormecida no compasso, ora fingindo que durmo.


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Fluxos

Não somos nada mais do que um fluxo de sentimentos.
Fluxos de cor, fluxos de dor. Aquilo que nos forma, que nos molda.

Sentimentos de paz, sentimentos de raiva.

Sorrisos, desilusões - A nossa personalidade.

Não somos nada mais do que aquilo que sentimos, do que aquilo que vivemos.

domingo, 10 de junho de 2012

O tempo - Ou a falta dele.



Ainda agora chegaste, e já tens de ir embora.

O tempo é tão pouco, que nem deixa o teu cheiro assentar pelos cantos da casa.

 

Por vezes, fico confusa. Não sei se estiveste mesmo aqui, ou se foi a minha vontade de te ter aqui.

É como um peso no peito que me faz arrastar os pensamentos –

 

 Onde estás? Quando vens?

 

Quando te vejo entrar, fico com medo. Medo de não ter mais do que esse breve antever do teu rosto. Agarro-te com os olhos, como se assim te pudesse ver para sempre.

 

Aproximo-me do teu corpo, encosto a saudade ao teu ombro e aperto-te, com todas as minhas forças. Nesse momento, é todo o meu corpo a dizer-te o quanto te sentiu a falta, o quanto te quer.

 

De repente, o tempo acabou.   

 

Consigo sentir um grito a apoderar-se do meu corpo:

 Não vás…Fica só mais um pouco.

 

  E é o meu abraço que te grita, e o meu peito, encostado ao teu, a gritar-te para dentro do coração: Não vás…

 

Mora só mais um pouco no meu mundo, comigo.

 

Só mais um abraço.

 

Só mais um beijo.

 

E, depois, vais te embora.

 

Fica apenas uma breve lembrança, espalhada pelo ar. 

Uma sensação de vazio no meu corpo, de desorientação. Ainda havia tanto dentro de mim para te dar. É uma acumulação sucessiva e constante de sentimentos – Consigo senti-los a escorregarem-me pelos olhos.

 

A porta fecha-se, num tom seco e cruel – Silêncios suspensos.

sábado, 29 de outubro de 2011

Ele


Aconchego-me na cama, e trago-o para perto de mim.
Como se esse simples gesto lhe pudesse mostrar o meu mundo.
Agarro, devagarinho, na sua cabeça que encosto no meu peito.
E deixo-me estar assim, ouvindo cada vez com mais intensidade o bater do seu coração.
Desejo apertá-lo com todas as minhas forças.
Como se assim fosse possível pô-lo ainda mais em mim.
Como se assim fosse possível mantê-lo longe de tudo o que o magoa.
Olho para ele.
Um outro ser, um outro mundo (meu?)
A mão dele repousa sobre mim.
Esse simples toque faz me sorrir docemente.

Ele acorda.

Olha-me.

E eu, perco-me...

Ele!...

domingo, 2 de outubro de 2011

Olhar


De cada vez que desapareces do meu olhar, sinto- te a falta. E o meu corpo, cada parte do meu corpo te lamenta, ficando sem jeito. E as minha mãos, as minhas mãos não se sabem mover como quando te tenho. E as palavras.Sinto em mim palavras a quererem falar-te. Sinto-as a empurrarem-se e acumularem-se no fundo da minha garganta. Mas eu não tenho voz. E a culpa é tua, porque te vais. De cada vez que desapareces do meu olhar, morro. – Inércia.E sempre que me foges dos olhos, apenas me resta pensar-te. E o meu corpo, dormente, a aguardar a tua presença no meu olhar.

E quando voltas, como que para  deixar o meu corpo mais ansioso de ti, apareces-me longe nos olhos. E eu consigo senti-los. Eu consigo senti-los a quererem agarrar-te, a quererem encher-se de ti.Porque é apenas quando ocupas todo o seu espaço que o meu corpo volta a viver.Porque nesse momento, meu amor, tudo é apenas tu. E tu escondes-me as paredes. E tu escondes-me as casas. E tu escondes-me o mundo.  E nesse momento, eu fico com os olhos cheios de ti.E o que eu daria, meu amor, para te ter a viver no meu olhar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ao anoitecer


A noite cai, devagar.
A noite cai, devagar, mas nunca vem só.
São sussurros de medo, ansiedade e preocupação que se metem à espreita.
E quanto mais escuro, mais repetitivos eles se tornam. É como se tivessem vergonha de se mostrar à luz do dia e ,ao  anoitecer, se enaltecessem.
Sussurros que querem mostrar que existem e que me gritam a sua presença, ao ouvido, todas as noites.
E eu digo-lhes que sim. Digo-lhes que sei que existem e que não precisam de se exibir durante a noite, porque até durante o dia eu tenho noção da sua existência.
Desconfiados, preferem marcar presença de cada vez que o escuro permanece.
E eu, impotente, nada posso senão ouvir.

Quando a noite cai, devagar, eu queria não ouvir.
Deitar-me, e o mundo apenas nada ser – Inércia.
Ao deitar-me, queria que a vida parasse e poder desfrutar de um silêncio absolutamente profundo, onde nem o respirar teria espaço para existir.
E, ao acordar, queria sentir todo o despertar do mundo em sons. Para sentir que não estou só.Para me balançar ao som do mundo. Para não ter que me ouvir por dentro.
Ao acordar, quero confusão, tumulto e barulho. E quero me mover por entre tudo isso. Porque é dia, e durante o dia eles não sabem ser.
Então eu quero absorver tudo o que o exterior tem para me dar. 

Porque, ao anoitecer, tudo isso cai com a noite.
E o mundo, o meu mundo, é outro mundo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E Quando


E quando nos sentimos ceder? Quando se sente, a pouco e pouco, partes do corpo a desistir?
E quando a força se esgotou, com o passar dos anos? Quando já não nos sentimos capaz de mais?
E quando tudo em nós passou a estar dormente do esforço? Quando tudo nos escorrega e nada fica, nada sossega?

Nesse momento, nesse ponto da vida, por favor, o que se faz?

E quando já não dá para nos levantarmos mais? Quando tudo é chão?
E quando já não dá para nos mexermos mais? Quando tudo é prisão?
E quando já não dá para tentarmos mais? Quando nada é opção?

Nesse momento, nesse ponto da vida, por favor, o que se faz?

E quando já deu o que tinha a dar?
E quando tudo se perdeu?
E quando, simplesmente, não conseguimos mais?

Aí então, por favor, que alguém me diga pois nunca ninguém me ensinou.
Nesse momento, nesse ponto da vida, como se faz?

domingo, 28 de agosto de 2011

Abraço

Foto tirada daqui.


 Abraça-me.
 Aperta-me, com força. Para que, a pouco e pouco eu me vá estilhaçando aos pedaços e assim poder entrar dentro de ti.

E quanto mais me apertas, mais eu me sinto em ti.
Pedacinhos de mim, por todo o teu corpo – nos olhos, no coração, nas mãos. 

Chega um momento em que os nossos corpos deixam de ter limite – Sou eu, em ti. És tu, em mim.
E eu quero viver assim para sempre, no teu abraço, no teu corpo.

Abraça-me.
Aperta-me, com força. Para que possa entrar por todo o teu corpo- nos olhos, no coração, nas mãos e lá adormecer, eternamente.

Abraça-me.
Aperta-me, com força. Para te poder possuir e estar em cada olhar, cada sentimento, cada gesto teu.

Abraça-me.
Aperta-me, com força. Para te poder amar mais de perto....

Abraça-me.....

Aperta-me....Com força.